top of page

A cidade universitária

Planetário_da_UFSM_e_o_relógio_solar.jpg

     Ao tratar desta versão da cidade, igualmente dedicada a caracterizar Santa Maria, apresentam-se os argumentos que justificaram a ligação entre os termos universidade e cultura, elencados no início desta seção: o primeiro está associado à criação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), cujas diretrizes expõem a cultura como “fundamental à formação do indivíduo e à sua relação com a sociedade”. O segundo é que a designação “cultura” atribuída a Santa Maria refere-se ao conceito de cultura como “construção, como aquisição própria do ser humano em sua experiência existencial”. O terceiro diz respeito ao fato de a UFSM ser a primeira universidade federal criada no interior do Brasil, particularmente, “através das relações entre expoentes da comunidade universitária e as comunidades culturais do Brasil e do mundo” (SANTA MARIA CIDADE CULTURA, 2003, p.84).

 

       O planejamento do projeto da nova universidade foi elaborado em 1953, por ocasião da visita de José Mariano da Rocha Filho aos principais campi universitários da Europa e Estados Unidos, ocasião em que criticou a concentração das universidades brasileiras apenas nas capitais de estados litorâneos: “o ensino universitário teimara em ser mantido como privilégio de ricos, ou ao menos, daqueles que haviam tido a felicidade de nascer em uma capital” (SANTA MARIA CIDADE CULTURA, 2003, p.87).

 

       A Universidade Federal de Santa Maria foi fundada em 14 de dezembro de 1960, sob Lei Federal nº 3.834-C Art. 15, conjuntamente com a Universidade Federal de Goiás (ISAIA, 2006, p.136). José Mariano da Rocha Filho, que a idealizou, o fez a partir de sua experiência como líder estudantil na Faculdade de Medicina de Porto Alegre (atual Faculdade de Medicina da UFRGS), como professor universitário, e como diretor das Faculdades de Farmácia e Medicina de Santa Maria.

 

       A proposta do Prof. Mariano seguiu-se, portanto, voltada à democratização do ensino superior através da interiorização da universidade, e a proposta da UFSM se distinguia em relação às demais universidades preexistentes, pelas características que seguem: acesso ao ensino superior por parte de todas as camadas sociais, principalmente, a população do interior; concentração do espaço do campus universitário como espaço comunitário, como uma oportunidade de “vivenciar o espírito universitário”; relação direta entre a educação e o ambiente da região.

      Santa Maria, na época da criação da Universidade, contava com o seguinte contexto (Censo de 1960): 84.128 habitantes; dos quais 9.600 eram militares, 16.935 ferroviários e 31.759 estudantes em todos os graus de ensino, assim distribuídos: curso primário, 21.736 estudantes; curso secundário 8.212 estudantes e curso superior, 1.805 estudantes (SANTA MARIA CIDADE CULTURA, 2003).

 

       Mariano da Rocha fez projeções para Santa Maria manter-se como “cidade cultura”, a partir de uma perspectiva ideal de estudantes, que deveriam atingir 25% da população. Atualizando dos dados, de acordo o Censo do IBGE de 2012, cujo índice populacional atinge 263.662 habitantes, têm-se, após 53 anos de fundação da UFSM: ensino pré-escolar e fundamental, 37.071 estudantes; ensino médio, 10.284 estudantes; ensino superior (somente UFSM) 28.120 estudantes. Considerando estar fora do cômputo outras seis IES na cidade, os objetivos do professor que idealizou a UFSM superaram os 30%.

 

       Nestes termos, embora o contexto-sócio econômico de Santa Maria não atenda aos requisitos materiais de uma “cidade-cultura”, conforme a leitura de Marcelo Canellas no início deste documento, o fato é que, senão cultura, Santa Maria segue com a alcunha de “cidade-universitária”, denominação que muito se aproxima de “cidade-escola”, criada por Guilhermino Cesar, em 1979, quando se referiu à Santa Maria como sendo um “viveiro de inteligências jovens, que enxameiam suas escolas de todos os níveis de ensino” (BELTRÃO, 2012, p. 21).

bottom of page