SABERES
Os saberes ou modos de fazer são atividades desenvolvidas por atores sociais conhecedores de técnicas e de matérias-primas que identificam um grupo social ou uma localidade.
MASSA FOLHADA ROSA
A Confeitaria Copacabana foi fundada em 1928, e sempre esteve localizada no calçadão de Santa Maria, na primeira quadra da Rua Dr. Bozano. É uma confeitaria tradicional que se mantém como um negócio familiar servindo doces e salgados com receitas consagradas.
Um dos doces mais famosos e consumidos na confeitaria é a massa folhada rosa. Com recheio de creme branco suave entre massa crocante do tipo “mil folhas”, é finalizada por um glacê consistente e rosado; além desta há uma variedade com recheio de doce de leite e cobertura de açúcar de confeiteiro.
Combinado a este, outros tantos doces compõem o cardápio tradicional: a bomba de chocolate, o papo de anjo glaceado, o bombom de rum, o presidente, a panelinha de coco e a rosca espanhola incrementam a lista dos doces que há alguns anos foi ampliada, devido às novas gerações que foram assumindo o empreendimento. Já na oferta de salgados, as empadas são um destaque, especialmente a empada de camarão, de massa folhada crocante e recheio cremoso.
GALETO AO PRIMO CANTO
É um prato tradicional do Rio Grande do Sul. Acredita-se que tenha surgido com os colonizadores que preparavam “passarinhadas” nos dias de festas. Porém, com a proibição da caça, os pássaros foram substituídos por frango.
O frango utilizado é jovem, com aproximadamente 30 dias. Chama-se ao primo canto, já que o frango é abatido no seu primeiro canto. Tradicionalmente é assado na brasa, servido com polenta bristolada (na chapa), salada de radiche e espaguete.
O galeto ao primo canto teve origem na região de Caxias do Sul. O primeiro restaurante a comercializar este prato foi a Galeteria Peccini, fundada em fevereiro de 1931, em função da primeira Festa da Uva. Desde então, diversos restaurantes, denominados galeterias obtiveram êxito e se espalharam pelo estado do Rio Grande do Sul.
Santa Maria, RS, também é bastante tradicional na elaboração desse prato. Restaurantes consagrados na cidade oferecem o galeto, e tradicionalmente, as famílias santamarienses apreciam o prato, fazendo com que o mesmo possua um valor além do sabor, como algo que pertence a eles.
O galeto ao primo canto se tornou popular em Santa Maria a partir de 1957, com a inauguração do Restaurante e Churrascaria Vera Cruz, propriedade de Augusto Martins e seu pai, na Avenida Medianeira. O galeto servido em Caxias do Sul, naquela época, era feito de frango com 1,20 kg, cortados ao meio e assados no espeto. Porém, a produção do galeto não era em escala industrial, e nem sempre era possível ter um frango desse porte para servir.
Augusto Martins e seu pai conseguiram, através de pequenos produtores da cidade, os frangos abatidos com idade entre 28 e 30 dias, pesando entre 550g e 650g, depois de limpos. Os franguinhos passaram a ser cortados em 10 pedaços e assados, no espeto, com um tempero a base de ervas finas (sálvia, manjerona, alecrim e cheiro verde), tomate, cebola, alho, pimenta do reino, vinagre e sal, entremeados com pedaços de toucinho e acompanhados de polenta bristolada (na chapa) e salada de radiche. Atualmente, essa receita de galeto é utilizada por vários outros restaurantes da cidade, a tal ponto que o galeto se tornou a grande referência gastronômica na cidade de Santa Maria.
XIS SANTA-MARIENSE
A partir do Decreto Executivo nº 053, de 19 de setembro de 2011, que regulamenta a exploração do comércio de lanches rápidos nas vias e logradouros públicos na área do município de Santa Maria, a Prefeitura Municipal de Santa Maria, a fim de qualificar e adequar o serviço prestado bem como a regulamentação dos empreendedores, criou o selo de qualidade “Santa Maria Cidade do Xis.” A normativa prevê a unificação do horário de funcionamento, a localização e leiaute dos equipamentos (trailers) nas vias públicas, cardápios trilíngues e uniformes padronizados.
O tradicional lanche é formado de pão branco arredondado do tipo massinha, salada, cebola, tomate, milho, ervilha, alface, e quanto mais, melhor. Depois mostarda, catchup, maionese. Em cima de tudo, carne, queijo derretido e ovos feitos na chapa. Fecha, prensa, e está pronto o xis. Mas não é um simples cheeseburguer, ele serviu apenas de inspiração. Do sanduíche americano, foi copiado o bife, o hambúrguer e o queijo, mas incrementado o recheio. A diferença para os sanduíches servidos em alguns outros estados é que o pão é prensado, deixando todos os ingredientes bem misturados e aquecidos. O xis é um sanduíche reforçado, preparado com ingredientes simples e baratos, sendo altamente calóricos.
CUTELARIA
Cutelaria é a arte ou ofício do cuteleiro ou cuteleiro, que é a pessoa que fabrica ou vende instrumentos de corte. São exemplos de produtos da cutelaria: espadas, adagas, facas, facões, machados, punhais e navalhas.
De forma mais artesanal ou com o uso de máquinas sofisticadas, a arte da cutelaria desenvolvida em Arroio Grande, distrito da região leste de Santa Maria, é vendida em todo o país e exportada para países da América e da Europa. Arroio Grande abriga cinco fábricas de facas: Coqueiro, Ginete, Cascavel, Ipê e Gaúcha, sem contabilizar os fabricantes de fundo de quintal.
Com maior ou menor grau de tecnologia, o trabalho ainda depende muito da mão de obra artesanal. A mão treinada dos funcionários é necessária do corte da lâmina até a finalização do cabo.
A tradição remonta a 1946, quando o ferreiro Maximiliano Albereci colocou o ofício em prática, começando com ferramentas agrícolas, como machado, enxada e foice e, depois, facas artesanais.
Entre os primeiros está também Botholo Bianchini, que chegou a trabalhar com Albereci. Bianchini começou a se tornar conhecido quando passou a vender a produção na rodoviária do distrito, nos anos 1940. Registrou a marca Coqueiro, e abriu caminho para a fama da cutelaria da localidade. Hoje, a Coqueiro segue sob o comando da família, nas mãos do filho Walter Bianchini, onde são produzidas cerca de 20 mil peças por mês, parte exportada a países como Itália, EUA e Chile.
Seja pela herança familiar ou pela cultura de levar adiante o que está dando certo, as fábricas de Arroio Grande buscam a profissionalização e a qualidade desse produto. Na localidade de São Marcos, no distrito de Arroio Grande, o ofício da cutelaria é passado de geração para geração.
