Historicamente Santa Maria sustentou, mesmo que em períodos de tempo intercalados, o sobrenome de Boca do Monte, expressão originária da língua tape, que tinha por significado “boca do mato” (caá-yura). Sobre os Tapes, sabia-se que eram mais sedentários que os Minuanos, geralmente agrupando-se em aldeiamentos, o que motivou o nome, pois tape significa aldeia grande ou cidade (RECHIA, 1999, p.22). Entretanto, esta versão se modificou quando os castelhanos passaram por estas terras e traduziram a expressão indígena caá-yura, por Boca do Monte.

 

    O apêndice fazia toda diferença na época, quando da identificação exata do lugar, isso porque às margens do Rio Santa Maria ergueram-se ranchos cujos proprietários diziam-se moradores de Santa Maria. Assim, para evitar equívocos, costumava-se distinguir esta última da “Santa Maria que fica perto da Boca do Monte” e que, segundo João Belém, “pela humana lei do menor esforço, naturalmente caiu ‘o que fica perto’, resultando o nome – Santa Maria da Boca do Monte” (2000, p.66).

 

       Expõe-se também uma variante mais simplificada e popularizada de Santa Maria da Boca do Monte: ela assim o é por situar-se em uma região cercada por morros. Esta moldura verdejante do entorno urbano sempre mereceu admiração dos moradores, mas principalmente de antigos cronistas, viajantes, botânicos e naturalistas que passaram pelo Rio Grande do Sul e por Santa Maria (Ciência & Ambiente, 2009). Embora, segundo a historiografia do município, a origem do sobrenome da cidade não esteja associada à paisagem dos morros, sua representatividade encontra lugar no imaginário dos cidadãos e daqueles que visitam a cidade, e na leitura que fazem da paisagem de Santa Maria, achando defesa tanto no texto de Amélia Bezerra...

 

       Uma das características mais importantes da identidade territorial e que corresponde ao mesmo tempo a uma característica geral da identidade é que “ela recorre a uma dimensão histórica do imaginário social, de modo que o espaço que serve de referência condense a memória do grupo, tal como ocorre deliberadamente nos chamados monumentos históricos nacionais” (BEZERRA apud ARAUJO; HAESBAERTH, 2007, p.74).

 

... quanto na letra da música Santa Maria, de Beto Pires:

 

Meu monumento estradas e trilhos

Minha saudade este tempo que vai

Este cerrito

Estes montes me guardam

E ainda guardam se um dia eu voltar pra ti

 

Santa Maria me guarde estes montes

Que em suas fontes há som de oração

Santa Maria da boca do monte

Pra ti meu canto, acalanto e canção...

 

Sol na praça, presidente, quente é teu calor

Muita banda na varanda e na orelha um cobertor

Tanta vida diferente, tanta gente vem e vai

Incerteza de quem entra, mas saudade de quem sai...

 

Tchau na estação quem ainda não deu

Não entendeu quem lá vai quem já vem

Triste é sentir virar som de saudade quando vai longe o apito do trem

 

Santa Maria, Maria da Graça, doce menina, Maria Fumaça

Verde tão verde tão cheia de si

Que da vontade de cantar pra ti.

 

      Santa Maria que já foi Acampamento (1797), Povoação (1801), Curato (1812), Freguesia (1837), Vila (1857), foi elevada a categoria de Município em 17 de maio de 1858 e à Cidade, em 1876. Entretanto, segundo a historiografia escrita por João Belém, o sobrenome Boca do Monte apareceu em três momentos apenas, salteados, a saber: na elevação à Curato, à Vila e à Cidade. Atualmente, embora seu nome completo não configure nos documentos oficiais, a cidade chama-se Santa Maria da Boca do Monte, há pelo menos 137 anos, sem que nada obste ao instituto. Portanto, em três momentos distintos da história, Santa Maria recebeu um nome e um sobrenome.

 

       Esta versão, embora considerada oficial, é desconhecida pela maioria da população.

​

      Este breve relato agrupou alguns dos aspectos que por si só já justificariam uma pesquisa aprofundada sobre a cidade de Santa Maria e suas representações, uma vez que apresenta – na sua diversidade temática – um farto caminho a ser trabalhado.

Entretanto, como exposto na abertura deste documento, Santa Maria é feita de muito mais...